Thursday, August 31, 2006

Voltando ao palácio


Não podia deixar de voltar a ele. Ele domina a paisagem da cidade. Volto a ele e voltarei como se volta a uma peregrinação, carregada de emoção. A primeira vez que lá entrei era noite, uma noite mágica, véspera de São João (La Sant Joan festa maior á Perpinhá) com grande animação nos seus jardins exteriores e interiores. Voltei a ele pouco depois, com o meu amor de adolescência. Havia muito que não voltara a ver aqueles olhos verdes e o meu coração continuava a bater como se o tempo tivesse apagado as cicatrizes da dor que sentira outrora. Deambulamos pelas salas quase vazias dos aposentos do rei, das capelas, da Aula, o corredor íntimo entre os apartamentos reais, as escadas em caracol apertadas escavadas na pedra das capelas. Mas é na parte mais recôndita, lúgubre e escura do palácio- fortaleza, nas masmorras, que nos detivemos a maior parte do tempo. Aqueles espaços recebiam uma exposição de pintura Barroca. Com uma iluminação muito ténua e uma decoração em panos escarlates, as masmorras adquiriram uma atmosfera teatral, transformando-se num palco. Eras tu e era eu, sós, nós os dois, encenando não sei que peça, não sei que personagens... só sei do meu desejo de mergulhar e perder-me no teu mar apagando o fogo de uma noite de São João.

Tuesday, August 22, 2006

Viver à grande e à ...


Quando em 21 de Agosto de 1269 Jaime II recebe, da mão do seu pai, o reino de Majorca, manda construir o palácio dos Reis de Majorca, a sua construção demorará 35 anos. O que me fascinou neste palácio – fortaleza, de estilo gótico, foi a disposição dos aposentos do rei e da rainha. Os apartamentos de ambos estão separados por uma capela, a da Santa Cruz. Para se encontrarem, o par real dispunha de 3 caminhos. Um, o mais público, consiste em atravessar o corredor central coberto, que dá acesso á entrada principal da capela de Santa Cruz, visível desde do pátio. O segundo é, atravessando a capela pelas suas portas laterais , que comunicam directamente, de cada lado com os dois aposentos. O outro é um túnel, bastante estreito, roubado á parede, por baixo do corredor central. Este último é o mais íntimo, pois liga directamente os apartamentos de suas majestades. Deste modo, e com uma perspectiva a longo prazo, sem descuidar o aspecto romântico, suas majestades só privavam quando realmente lhes apetecia, sem terem de encarar com o mau humor matinal(no mínimo, pois poderíamos referir aspectos olfactivos ainda menos agradáveis) ou com o ruidoso e incomodante repouso do seu par. Admiro esta sensatez e recomendo-a. Que se viva, se não á grande, ao menos á Majorquina. (be continued...)